quarta-feira, 14 de maio de 2014

Novas estruturas cerebrais reveladas por pesquisadores brasileiros

Herton Escobar 
Adaptado de: O Estado de S. Paulo (13/05/2014)
Cientistas brasileiros podem ter resolvido um mistério de certa forma “fantasmagórico”, que assombra anatomistas e neurocientistas há quase meio século: Como informações são transmitidas de um hemisfério para outro no cérebro de pessoas que nascem sem o corpo caloso?
O corpo caloso, para entender o mistério, é uma estrutura fundamental que conecta os dois hemisférios do cérebro (esquerdo e direito) como uma ponte de cabos neuronais (axônios), através dos quais as informações transitam de um lado para outro do órgão conforme necessário. Essa ponte não chega a ser vital — pois há pessoas que nascem e vivem naturalmente sem ela –, mas é extremamente importante para o funcionamento normal do cérebro.
Pessoas que tiveram o corpo caloso cortado cirurgicamente — algo que se fazia no passado, como tentativa de tratamento para uma série de distúrbios psíquicos e epilepsia — sofrem com uma série de sequelas. Entre elas, a incapacidade de verbalizar o nome de objetos que são tocados com a mão esquerda, porque o reconhecimento tátil do objeto é processado pelo hemisfério direito, mas a fala é controlada primordialmente pelo hemisfério esquerdo, e o sinal não consegue passar de um lado para outro. Ou seja, o paciente segura o objeto e o reconhece com o hemisfério direito, mas não é capaz de dizer seu nome com o hemisfério esquerdo, porque a informação tátil que é gerada de um lado não consegue se conectar com a região de processamento da fala do outro lado.
No final da década de 1960, porém, o neurocientista Roger Sperry descobriu que pessoas que já nascem sem o corpo caloso não têm esse problema: elas podem reconhecer e falar o nome de qualquer objeto, independentemente da mão que estejam usando para segurá-lo. Ótimo! Mas como? Ninguém sabia dizer como um hemisfério se comunicava com o outro na ausência do corpo caloso, e isso ficou conhecido desde então como o “paradoxo de Sperry”.
Agora, pesquisadores brasileiros ligados principalmente ao Instituto D’Or e à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) parecem ter finalmente resolvido esse paradoxo. Eles investigaram o cérebro de pacientes com disgenesia (ausência congênita) do corpo caloso e descobriram que eles possuem duas “pontes” alternativas de cabeamento neuronal, que transferem informações de um hemisfério para outro — restaurando assim, ao menos parcialmente, as funções normalmente executadas pelo corpo caloso. A descoberta foi feita por meio de técnicas avançadas de imageamento (ressonância magnética funcional e imagem do tensor de difusão). Ninguém teve seu cérebro cortado para isso.


Fig. 1. DTI deterministic tractography shows anomalous interhemispheric
connections via posterior (PC) and anterior (AC) commissures in CD. (A and B)
DTI-tractography on T1 sagittal/parasagittal plane (Left), and on coronal or
sagittal color-coded FA maps (Right), showing the interhemispheric midbrain
bundle (A) and the interhemispheric ventral forebrain bundle (B) in yellow.
(Ilustraçao retirada do artigo original)
Rotas alternativas. Esses feixes não existem nas pessoas normais, segundo a pesquisadora Fernanda Tovar-Moll, que assina o trabalho como primeira autora na edição desta semana da revistaPNAS (link para o estudo: http://migre.me/jaHEV). “São vias alternativas que se formam no cérebro desses pacientes para compensar a ausência do corpo caloso”, disse ela ao Estado.
A exemplo do corpo caloso, essas vias alternativas são construídas de aglomerados de axônios, mas não foi possível estimar quantas “fibras” estão presentes em cada feixe (o corpo caloso tem aproximadamente 200 milhões de axônios). “Para calcular isso seria preciso fazer uma análise do cérebro pós-morte”, explica Fernanda. A espessura dos feixes, segundo ela, varia de um paciente para outro, mas eles têm mais ou menos “o calibre de uma caneta”. Ou seja, são estruturas robustas, que poderiam ser facilmente dissecadas com um bisturi.
Seja qual for o número de axônios dentro deles, a funcionalidade dos feixes foi comprovada pelos testes de reconhecimento tátil de objetos, nos quais os pacientes sem corpo caloso se saíram tão bem quanto os indivíduos sadios (controle), segundo o estudo.
Foram avaliados seis pacientes com disgenesia do corpo caloso, de ambos os sexos, com idades entre 6 e 33 anos. Todos tinham os dois feixes alternativos no cérebro, aparentemente desde o nascimento. Os cientistas especulam que os feixes sejam formados ainda nos estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, quando a plasticidade anatômica do cérebro ainda é bastante alta, como forma de compensar a ausência do corpo caloso.
O que não significa, necessariamente, que o problema esteja resolvido desde o início. As manifestações clínicas da ausência do corpo caloso nos adultos variam muito: desde casos de retardo mental severo até casos aparentemente assintomáticos. “Tem gente que não sabe de nada, vai fazer uma ressonância por causa de uma dor de cabeça e descobre que não tem corpo caloso”, relata Fernanda. “Os efeitos são extremamente variáveis.” E os cientistas não sabem explicar porquê.

domingo, 11 de maio de 2014

Cinema e Neurociências

Augustine
  • Título Original: Augustine
  • País de Origem: França
  • Gênero: DramaFilmes 2012
  • Duração: 102 Minutos
  • Ano de Lançamento: 2012
Inverno de 1885, Paris. O professor Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa, a histeria, que atinge apenas as mulheres. Devido à pouca informação sobre a doença e suas características peculiares, os ataques de histeria por vezes são confundidos com possessões demoníacas, o que faz com que Charcot tenha que provar a seriedade de sua pesquisa. Um dia, chega ao hospital a jovem Augustine (Soko), de apenas 19 anos, que teve um ataque durante o trabalho. Logo ela se torna objeto de estudo de Charcot, que passa a dedicar um bom tempo à garota. Augustine acredita que Charcot possa curá-la e, aos poucos, desenvolve uma relação especial com o médico.


Amour

  • Nome Original: Amour
  • Ano: 2012
  • Duração: 127 min
  • País: Áustria/França/Alemanha
  • Classificação: 14 anos
  • Gênero: Drama
Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados, que costumava dar aulas de música. Eles têm uma filha musicista que vive com a família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste. O filme recebeu a Palma de Ouro em Cannes, 2012.


Tempo de Despertar

Ano: 1990
Direção: Penny Marshall
Gênero: Drama
Origem: EUA
Tempo de Duração: 120 minutos

Atores: Robert De Niro,  Robin Williams, John Heard, Julie Kavner, Penelope Ann Miller, Max Von Sydow

Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um neurologista que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico. Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão catatônicos, mas Sayer sente que eles estão só "adormecidos" e que se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados. Assim pesquisa bem o assunto e chega à conclusão de que a L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada para pacientes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para este casos. No entanto, ao levar o assunto para o diretor, ele autoriza que apenas um paciente seja submetido ao tratamento. Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro), que há décadas estava "adormecido". Gradualmente Lowe se recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos outros pacientes, sob sua supervisão. Logo os pacientes mostram sinais de melhora e também mostram-se ansiosos em recuperar o tempo perdido. Mas, infelizmente, Lowe começa a apresentar estranhos e perigosos efeitos colaterais.


O Escafandro e a Borboleta

  • Direção: Julian Schnabel
  • Elenco: Mathieu Amalric
  • Nome Original: Le Scaphandre et Le Papillon
  • Ano: 2007
  • Duração: 112 min
  • País: FRA/EUA
  • Classificação: 10 anos
  • Gênero:Drama

Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) tem 43 anos, é editor da revista Elle e um apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral. Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto, e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória.