sexta-feira, 7 de setembro de 2012

FOTO DA SEMANA


Flagrante Inédito! Este neurônio está sob o efeito da proteína beta-amilóide. A proteína gera uma placa, as chamadas placas de senilidade, que, acredita-se, seriam as principais causas da Doença de Alzheimer. (Foto do Prêmio Eureca New Scientist para Fotos Científicas do Museu Australiano)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cientistas conseguem restaurar olfato com terapia genética


Revista Veja 03/09/2012
Cientistas americanos conseguiram pela primeira vez restaurar o olfato de um camundongo com o uso de terapia genética. O tratamento pode vir a ajudar pessoas que nasceram com anosmia – a incapacidade de sentir cheiros. 
Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo que testou o tratamento, a terapia regenera estruturas celulares ciliadas, que existem no revestimento interno da traqueia e dos brônquios. Esses cílios funcionam como “antenas” que percebem o ambiente. São essenciais para o sentido olfativo. Universidade Duke, Universidade Paris V, Universidade de St. James e Universidade do Alabama
Embora o tratamento tenha como alvo as pessoas que nasceram sem olfato, os cientistas afirmam que ele também pode vir a ser útil para pessoas que perderam a capacidade de sentir cheiro por causa da idade, traumas ou acidentes. 
"Nós essencialmente induzimos os neurônios que transmitem o sentido do olfato a recuperar os cílios que faltavam”, disse Jeffrey Martens, cientista da Universidade de Michigan (EUA), que participou do estudo, publicado na edição desta semana do períodico Nature Medicine.
Pouco apetite — Segundo Martens, os camundongos analisados tinham problemas que afetavam um gene chamado IFT88, o que prejudicava o crescimento e o funcionamento dos cílios em seus corpos. De acordo com os cientistas, por causa do problema, os camundongos se alimentavam pouco, já que o apetite de muitos mamíferos é motivado pelo cheiro, e tinham mortes precoces.
Os pesquisadores então inseriram genes IFT88 saudáveis em uma amostra de vírus de gripe comum e contaminaram os camundongos com ele. A infecção permitiu que o vírus espalhasse os genes saudáveis nas células dos camundongos. Os cientistas então passaram a monitorar os camundongos para verificar a recuperação dos cílios.
Segundo o estudo, após o início da terapia, os camundongos começaram a comer mais e, 14 dias depois, já tinham aumentado seu peso em 60%. Testes também mostraram que os neurônios envolvidos na percepção do cheiro reagiam quando os camundongos eram expostos a amostras de acetato de amila, um produto com forte cheiro de banana.
"Nós já sabemos muito sobre o olfato, agora precisamos aprender a consertá-lo quando ele funcionar mal", disse Martens. Os cientistas também esperam que o tratamento possa vir a ajudar vítimas de outras ciliopatias (doenças na estrutura ciliar do corpo), como doença do rim policístico e a Síndrome de Alstrom, ambas doenças provocadas por desordem no IFT88.

Resumo do artigo publicado na Nature Medicine Set. 2012
 2012 Sep 2. doi: 10.1038/nm.2860. [Epub ahead of print]

Gene therapy rescues cilia defects and restores olfactory function in a mammalian ciliopathy model.

Source

Department of Pharmacology, University of Michigan, Ann Arbor, Michigan, USA.

Abstract

Cilia are evolutionarily conserved microtubule-based organelles that are crucial for diverse biological functions, including motility, cell signaling and sensory perception. In humans, alterations in the formation and function of cilia manifest clinically as ciliopathies, a growing class of pleiotropic genetic disorders. Despite the substantial progress that has been made in identifying genes that cause ciliopathies, therapies for these disorders are not yet available to patients. Although mice with a hypomorphic mutation in the intraflagellar transport protein IFT88 (Ift88(Tg737Rpw) mice, also known as ORPK mice) have been well studied, the relevance of IFT88 mutations to human pathology is unknown. We show that a mutation in IFT88 causes a hitherto unknown human ciliopathy. In vivo complementation assays in zebrafish and mIMCD3 cells show the pathogenicity of this newly discovered allele. We further show that ORPK mice are functionally anosmic as a result of the loss of cilia on their olfactory sensory neurons (OSNs). Notably, adenoviral-mediated expression of IFT88 in mature, fully differentiated OSNs of ORPK mice is sufficient to restore ciliary structures and rescue olfactory function. These studies are the first to use in vivo therapeutic treatment to reestablish cilia in a mammalian ciliopathy. More broadly, our studies indicate that gene therapy is a viable option for cellular and functional rescue of the complex ciliary organelle in established differentiated cells.



segunda-feira, 3 de setembro de 2012


A MACONHA EM DEBATE


Jornal do BrasilVanderson Carvalho Neri*
Segundo dados recentes divulgados por pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), um em cada dez brasileiros adultos já experimentou maconha. De acordo com dados da mesma pesquisa, 1,5 milhão de usuários usam a erva frequentemente no país, e deste total, 1,3 milhão, aproximadamente, já são considerados dependentes. Trata-se, portanto, da droga ilícita mais consumida no país.
A Cannabis sativa, nome científico dessa erva conhecida pela humanidade há cerca de 6 mil anos, tem sido alvo de discussão e debates ao redor do  mundo a respeito de seus efeitos sobre o organismo e o impacto que sua legalização teria sobre a sociedade. No último relatório da Organização das Nações Unidas sobre o assunto, a instituição estima em 150 milhões o número de usuários diários da planta ao redor do mundo, mas, por se tratar de uma prática ilícita, esse número pode ser ainda maior devido à inibição do usuário em responder aos institutos de pesquisa.
Estatísticas à parte, o que temos certeza é que a Cannabis possui efeito direto sobre o sistema nervoso central, principal alvo da ação dos  seus canabinoides na gênese do efeito alucinógeno e do “bem-estar”. É sabido que sua ação altera, a longo prazo, a percepção e a cognição, pode aliviar o estresse físico e mental, mas tem grande chance de levar à dependência psicológica. Seu efeito entorpecente, por exemplo, condiciona o indivíduo à amnésia, lentificação do raciocínio, diminuição dos reflexos e alteração dos atos motores.
A dependência se concretiza e manifesta quando há a presença de alterações físicas ou emocionais na ausência do consumo da substância. No contexto das drogas ilícitas, a maconha tem um menor efeito de dependência, sobretudo se comparada com outras classes, como o álcool, o crack ou a heroína. Entretanto, como existe um alto número de consumidores, proporcionalmente, o número de dependentes também é muito significativo, e por isso tem grande impacto social.
Apesar disso, o número de políticas governamentais ou públicas que atentem sobre esse fato são modestas, o que vulnerabiliza a situação dos dependentes e colabora para a formação de novos usuários e, consequentemente, a fomentação do crime organizado e do banditismo social.
O debate mundial a respeito dessa “planta da discórdia” tem várias vertentes: saúde pública, econômica e legal. No tocante à saúde, devido aos seus efeitos lesivos sobre o organismo do dependente e o impacto disso na sociedade; economicamente, pelo consumo desenfreado de uma substância não tributada; e legal, por se tratar de um dos braços de financiamento da máfia e do crime organizado. Nesse conjunto de substâncias ditas ilícitas, também devem ser lembradas a heroína, o crack, o ecstasy, o haxixe e o LSD, entre outras menos consumidas, além, é claro, do álcool, substância psicoativa de maior consumo em todo o mundo, com efeitos mais devastadores do que todas as outras juntas.
O fato é que todas essas composições químicas, incluindo a maconha, têm efeitos nefastos sobre o organismo do usuário e sobre a sociedade. Também é fato que a humanidade não caminhará em seus dias sem a presença de drogas lícitas e ilícitas; seria ingenuidade de nossa parte pensar o contrário.
Por isso, a discussão a respeito do uso da maconha não deve só se reter apenas no potencial de dependência da droga, ou nas características de sua legalização, mas preferencialmente na implementação de políticas públicas que atuem efetivamente na educação, esclarecimentos, na prevenção do consumo desenfreado e no tratamento de usuários com uso sintomático, hoje talvez aspectos pouco valorizados no debate sobre a droga e essenciais para o controle da atual situação. 
* Vanderson Carvalho Neri é médico neurologista. - vandersoncn@yahoo.com.br